"Do amor e de outros demónios"... (referência ao fantástico livro homónimo de Gabriel Garcia Marquez).
Ou será, melhor dizendo, do cd e de outros demónios?!
É que me sinto nua, dançando em público sem a máfia irresistível que é a minha orquestra egípcia.
Tenho ataques de nostalgia-saudade portuguesíssimas e assim me agarro, de forma duvidosa, à primeira "darbouka" que vir na minha frente e suspiro, em desespero que roça a doçura: "Ondes estão os meus homens?"
Dançar na Gala de Abertura do Festival EAST FEST, no passado dia 28 de Abril, foi um daqueles desafios que me re-colocam, num segundo, os pés bem assentes na terra e me acrescentam um pouco mais de humildade e coragem.
Apresentar-me em palco sem o pano de fundo (e pano de dentro) dos meus músicos, TENTAR dançar ao som de um cd que apenas emite sons mortos e definitivos foi, para mim, um terror que só se ultrapassou porque "Deus existe" e não me abandona.
Seja em que circunstância for, eu faço TUDO o que aceito FAZER de coração total e aberto. Não conheço os meios termos, os cinzentos, os sim que querem dizer não e os nãos que podem, eventualmente, ser lidos como sim.
Eu sou exagerada, PRESENTE, louca na minha urgência de me dar por inteiro no maior ou mais pequeno que faça. E assim dancei, com todo o meu SER, sob o deserto sonoro e humano da ausência dos meus homens egípcios e suas idiossincracias.
E assim dei, no vazio, aquilo que tinha. Nem que isso fosse apenas silêncio e ausência.
E, porque fui inteira como não podia deixar de ser, do silêncio fez-se música e da ausência nasceu uma orquestra imaginária feita de carne e osso, meus e da audiência que me via e sentia.
E assim vi que até a ausência se dança e que os medos só servem para nos lançar no vazio e descobrir que, ao fundo do precipício, existe só a TOTALIDADE.
E vai mais uma (vitória! Cá das minhas...:)
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