"Eu era um afinador de silencios.
-Venha meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.
Ao fim do dia, o velho se recostava na cadeira da varanda. (...) Depois, ele inspirava fundo e dizia:
-Este é o silencio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeco, Mwanito.
Ficar devidamente calado requere anos de prática. Em mim, era dom natural. Heranca de algum antepassado. Talvez fosse legado de minha mae, dona Dordalma, quem podia ter a certeza?
De tao calada, ela deixara de existir e nem se notara que já nao vivia entre nós, os vigentes viventes."
Mia Couto, "Jerusalém"
(Via Sancha Guiomar)
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