Tuesday, October 4, 2011

A verdadeira inter-culturalidade.


Há dias destes, ou anos destes, alturas destas em que as travessias do deserto nos parecem nunca acabar e, embora polvilhadas de refrescantes e doces oásis aqui e ali, nos machucam o corpo e a alma até nos despedacar de tal forma que nao resta osso sobre osso, conviccao sobre conviccao.
Resta apenas o silencio de quem conclui que, de facto, nada sabe nem compreende deste mundo louco no qual a própria nocao de Humanidade se dilui em águas turvas, esvai-se ao sabor do desequilíbrio geral do Planeta Terra, reflexo de nós (e nós, dele).

Mais uma proposta de casamento express "a la egípcia", mais uns quantos assédios diários sempre que me atrevo a sair a rua (coberta de trapos para nao atraír a atencao de ninguém e, ainda assim, massacrada por ter um corpo), umas mentiras e cambalachos no trabalho, uns quantos vampiros a minha volta tentando cheirar sangue e sentir-me vulnerável para me atacarem, mesquinhas invejas aqui e ali e o que resta?

Silencio e incompreesao.
Esta SIM, é a verdadeira experiencia da inter culturalidade.
Sempre que o assunto se discute teoricamente, torna-se interessante e suportável mas a vivencia REAL e diária do choque de culturas/mentalidades/leis/valores/princípios morais e éticos essa SIM, se torna a VERDADEIRA tomada de consciencia inter-cultural.

Entre a irritacao e a tentacao de me julgar, mentalmente, superior aos que me rodeiam (fraquezas minhas tao compreensíveis para quem vive por cá) e o esforco diário de ACEITAR aquilo que nao consigo compreender e CONTORNAR aquilo que nao compreendo nem ACEITO (por ir contra os meus valores mais arreigados ou dignidade pessoal) aqui vou VIVENDO a grande escola que é o Egipto ou qualquer outro país com o qual entremos em choque mas com o qual tenhamos de conviver diariamente.
Tao fácil defender as diferencas e a troca de culturas quando estamos no conforto do nosso país, entre gente que pensa e age de forma semelhante a nossa. Difícil e transformador é viver estas diferencas na pele, diariamente, sem tempo de recuperacao de um choque para o outro, tendo de optar pelo ataque de nervos constante ou a arte de fluir com a realidade que nos rodeia sem, no entanto, deixarmos de ser quem somos.


Como amar aqueles que nos ferem e traem?
Como amar aqueles que nos invejam, prejudicam, mal dizem e odeiam?
Como amar a incompreensao em si e a ignorancia, a nossa e a dos outros?
Como amar as diferencas, mesmo que elas signifiquem o contrário de tudo o que consideramos digno e bom?

Nao existem livros, professores, palestras e teorias que cheguem aos pés desta experiencia de vida.
Há dias, ouvi esta frase e nela me encontrei:
"A flor de lótus cresce da/na lama."

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