Cairo, dia 13 de Junho, 2009
“Aniversário a actuar e entre amigos- poderia ser melhor?!”
*** O que houve de especial neste dia de aniversário?
Visita da Nagle, senhora egípcia que faz todo o tipo de biscates para ganhar a vida e sustentar uma casa com dois filhos e um marido encamado. Contrariamente ao que é costume ver-se nas sedentárias mulheres egípcias, a Nagle é activa, lutadora e cheia de energia para trabalhar talvez porque precise tanto e também por natureza. Peca por querer fazer mais do que pode e sabe mas compensa pela força de vontade e energia para arregaçar as mangas e pôr mãos à obra.
Desde limpar a casa, a cozinhar iguarias egípcias, cozer, bordar e tricotar, fazer de figurante em séries de televisão, fazer maquilhagens que ela julga serem dignas de Hollywood mas que eu, na minha ignorância, mais vejo aptas para uma “Noite das Bruxas”, trabalhar como minha assistente quando tenho casamentos ou festas privadas (olha mais do que faz mas é um apoio!), fazer manicures e pedicures terríveis (caí na esparrela uma vez), depilações tradicionais egípcias com a “halawa” (feita com mel e limão e semelhança às ceras depilatórias) e massagens improvisadas – uff!!! – a Nagle é um autêntico Da Vinci do brica-a-braque, uma mulher com os valores da Renascença e uma genica invejável.
Visitou-me no meu dia de aniversário para me oferecer uma “djellaba” para os meus espectáculos. No meio de tanta pobreza – que ela combate com trabalho incessante – foi capaz de se preocupar em desencantar uma “djellaba” para os meus espectáculos.
Fui invadida por mensagens, telefonemas e emails de amigos de todo o mundo – literalmente – desejando-me um FELIZ ANIVERSÁRIO.
Nada me deixou mais feliz do que isto.
Manhã na piscina do ginásio onde vou treinar...sol, um bom livro e muita paz para começar o meu dia de anos.
Espectáculo em festa privada com gente eficiente, divertida e muito “boa onda”...não dancei pela arte mas pelo entretenimento. Quero dizer com isto que existem espectáculos em que o público ou a natureza do palco e evento em si pedem uma “entertainer” e não tanto uma artista. O público está animado, vem dançando pela noite fora e bebendo uns copitos. Quando eu chego, o que eles querem é pular, gritar e dançar sendo animados por mim. Nada de sentar-se e assistir a uma sentida canção de Om Kolthoum (isso é para outras ocasiões).
Confesso que me divirto mas, como artista, me sinto frustrada. O ideal é poder combinar a arte com um pouco de “regabofe”...não gosto de sentir que qualquer bom “entertainer” poderia ter feito aquele trabalho. Ser-se único passa por fazermos algo que mais ninguém poderia ter feito com a mesma qualidade e alma. Quando isso falta, eu sinto-me vulgar e facilmente substituível. No entanto, consegui estar “no momento” e celebrar com o público esta noite que era mais minha que deles!
5. Depois do espectáculo, corri para os braços de amigos que fizeram questão de organizar um jantar de aniversário e esperar por mim, apesar de eu só ter podido aparecer à 1.30h da manhã... L O carinho e presença daqueles que nos querem bem é a base de toda o sucesso e felicidade. Estou grata por isso e por tudo o resto que não posso descrever.
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