Saturday, June 27, 2009





Cairo, dia 8 de Junho, 2009

“ O simples milagre da existência”


É fácil perder-se a perspectiva do que é, realmente, importante na Vida. Somos bombardeados com mensagens e “sistemas educativos” alimentados por enganos e preconceitos fielmente carregados de geração em geração des-ensinando-nos aquilo que devemos esperar da vida, o que devemos ser e ter e o que tem VALOR.
Por mais consciente que seja, também eu tenho inúmeras zonas de escuridão e confusas “verdades” adquiridas, limitações, inseguranças e medos que me foram transmitidos por pais, escola, sociedade...tento crescer, além de mim mesma ou daquilo que julgo ser. Por vezes, consigo ver mais longe. Em dias como o de HOJE.
Regressando da escola onde dou aulas – o meu querido Curso de Verão!!! – decidi caminhar até casa em vez de apanhar um táxi, apesar do calor tórrido que já faz no Cairo ( e ainda estamos no início de Julho!).
Vinha perdida nos meus pensamentos, objectivos e lista de estratégias e tarefas a seguir quando dei por mim atravessando uma estrada ladeada de árvores altas e velhas como o tempo. Entre os ramos das árvores, via-se excertos de céu como palavras soltas num poema que se entende nas entrelinhas. Uma brisa muito leve cobria as folhas e os ramos que me protegiam do sol e uma imagem de perfeita beleza inundou-me os olhos e, mais que isso, a alma! Nem sempre uma imagem trespassa os portões maciços e resistentes dos olhos que já viram demasiado...desta vez, aquilo que os meus olhos virão abriu as portas mais fechadas, as do medo e da inocência perdida e, num segundo, lágrimas leves cobriram-me a face.



Isto sucede-me, de vez em quando...quando vejo ou vivo uma experiência de beleza intensa e a emoção dessa beleza é tão grande que os rios internos do coração não se contêm e se soltam fazendo-me lembrar que, apesar de todas as preocupações, dúvidas, medos, pequenas/grandes alegrias e tristezas, o essencial da Vida está aqui, neste momento, AGORA entre mim, estas árvores e este céu em migalhas de poema.



Respirei fundo – coisa que tento fazer cada vez mais – e senti que tudo está bem e completo AGORA.As lágrimas, como o riso, saltam-me facilmente da cara, sempre. Aprecio isso em mim e espero nunca o perder.
Saber ler poemas onde o comum dos mortais apenas vê troncos de árvore e nuvens é outro dom pelo qual sou grata.
Tacinha de morangos apanhados no nosso jardim em Portugal (obrigada, Dedinha!)

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