Thursday, November 29, 2012

Taça transbordando de Amor (Rússia)...



Na neve - contentamento de criança.
A Vida tem formas de compensar-nos por tudo: boomerang infalível daquilo que a ela atiramos e nela semeamos.

Parecia que a esperança no futuro da Dança Oriental se esvaía em mim - consoante constato a sua morte no Egipto e um crescente comercialismo e superficialidade na forma como esta é praticada em todo o mundo. Parecia...até que fui convidada para actuar, ensinar e trabalhar como jurada no maior festival de Dança Oriental da Rússia (Festival Europa-Ásia).

Eu, Maria Aya e Natalia - organizadora deste magnífico evento.
Esta fase - FANTÁSTICA - da minha carreira parece ter mais surpresas na manga do que eu, alguma vez, poderia prevêr. Os desafios ampliam-se e mudam consoante os meus palcos se estendem um pouco por todo o mundo. A questão já não é "apenas" conquistar o público e o reconhecimento artístico no Egipto (objectivo mais que alcançado - graças a Deus e muita Caminhada pintada de Coragem, Amor, Trabalho e sacrifícios-preços a pagar); agora há que conquistar e passar a minha Visão da Dança Oriental a TODO o MUNDO; comunicar com públicos da China, de Espanha, da Rússia, do Japão, da América, etc e mais uns etcs
A "fórmula" que funciona às mil maravilhas no Egipto (eu e a minha orquestra) tem de ser reformulada, repensada, re-sentida e RECRIADA de forma a chegar ao corpo, mente e coração de pessoas do mundo inteiro, de distintas culturas, mentalidades, expectativas, visões da Vida e da Dança.

Chegar ao coração da Rússia foi flecha veloz, certeira e prazeirosa: nunca vi país onde o respeito pela Dança Oriental fosse tão absoluto e amoroso.


*Competições:

Cerca de mil bailarinas (altamente preparadas, coreografadas, educadas) competiram durante dois dias divididos em estilos, idades e níveis técnicos. 

As bailarinas de nível iniciado equivalem- a meus olhos - a muitas "ditas profissionais" que se vêm por aí. O nível artístico, a seriedade, o profissionalismo e a criatividade arrojada das bailarinas russas que vi são incomparáveis e restituiram - claramente - a fé que parecia ter perdido no futuro da Dança Oriental.


Eu que era aversa à ideia das competições, comecei a ver como estas podem ter efeitos positivos no crescimento de uma modalidade artística. Cada grupo tenta superar-se, cada bailarina busca melhor do que já fez, cada artista quer - humildemente - saber mais e mais e mais. A sede de aprendizagem e evolução é LINDA de se sentir.

Pela primeira vez, usufruí o trabalho de jurado - juntando-lhe ainda o prazer de ser público dos mais variados estilos de dança (Oriental egípcia e  folclore do Eghipto e de todo o Médio Oriente). Senti-me inspirada, entusiasmada, iluminada pelas bailarinas que vi.

A Rússia tem uma Federação Nacional de Dança Oriental e cada bailarina possui um "bellydance passport" onde são registadas as formações, cursos e prémios que ganha. 


* Workshops:

É sabido: a humildade é apanágio dos GRANDES; a arrogância é apanágio dos pequeninos de espírito e talento.
A disciplina, entrega, reconhecimento e amor presentes nos workshops que ministrei são de deixar-me sem fôlego nas artérias da Alma. Oh, meus Deuses: que MARAVILHA!

Apesar das dificuldades sentidas, nenhuma aluna se queixou, maldisse, fofocou ou se encostou "à box" - mesmo quando os meus workshops foram os últimos de uma semana inteira de formação intensiva. Creio que isto se deve a excelentes professores russos e a uma tradição cultural russa de disciplina, trabalho árduo e dedicação à excelência. 

Ensinei no céu - num céu meu, muito particular.

O talento é aos montes, bem como a simpatia e a simplicidade. Basicamente, senti-me em casa.


* Espectáculo:

Sim, dançar em palco sem a minha orquestra egípcia continua a ser como dançar nua, desprotegida, surda e muda. Mas - yalla! - adiante. Se Deus dá laranjas, faz-se laranjada e da boa!:)
Improvisei um tema de Om Kolthoum e um solo de tabla completamente doido que poderão ver aqui no blogue, muito brevemente. Uma vez mais, o respeito, reconhecimento e amor face à minha pessoa e trabalho foram de fazer chorar as pedras da calçada. 

Maluda, "Romã", 1984



Resumindo: 
Rússia:
 uma BENÇÃO.


P.S. Quando cheguei ao recinto onde decorreram as competições, reparei como um grupinho de meninas de cerca de seis anos de idade comentavam o meu nome e se alegravam de ver-me, cochichando entre elas. 

Perguntei como era possível que meninas tão pequenas soubessem quem sou e fui informada que sim, sabem quem sou, o que fiz até agora na minha carreira e que estudam as minhas coreografias e improvizações em espectáculos (de vídeos que se encontram disponíveis na internet).
Fiquei boquiaberta, honrada, atarantada - e muito feliz!:)


Próximas paragens: 
Londres, Inglaterra e Irlanda (Dublin e Tullamore - castelo encantado de Charleville). 
Tanto para DAR, SERVIR, PARTILHAR, AMAR...
GRATA por tudo: TUDO.

1 comment:

  1. BOA!!!!
    Muito merecido Joana. Fico sinceramente feliz que tenhas estas experiencias e reconhecimento que te enche a Alma!
    ;)

    ReplyDelete