Saturday, June 5, 2010

Cairo, dia 5 de Junho, 2010

O terror do soutien vermelho (deveria ter cobrado bilhetes!)


Directos ao assunto:
Uma amiga minha ofereceu-me uma bela camisa castanha justinha o suficiente para não eu não parecer um saco de batatas (look que tenho adoptado, como defesa, com cada vez maior frequência) mas folgada nas zonas certas para que não se torne proíbida de usar numa cidade louca como o Cairo.
Perfeita para ir às compras, ao banco, etc.
Camisa perfeita para o lado mais “normal” da minha vida tão “anormal”.

Facto:
Os homens egípcios/árabes são frustrados (mentalmente, sexualmente, emocionalmente, talvez até biologicamente) e reagem a qualquer rabo de saias como um cão em época de acasalamento. A diferença entre os cães e os homens de cá é o grau de civilidade de uns e de outros. Os cães são mais civilizados, só sentem a urgência de acasalar em determinadas alturas do ano e tendem a ser cavalheiros com as suas fêmeas. O mesmo não sucede com os homens deste lado obscuro do planeta Terra.



Episódio “Soutien Vermelho” (Pois devia, DEVIA ter cobrado bilhetes!):

Lá vou eu descobrindo uma nova mercearia de bairro, desejando estabelecer uma relação cordial com o pessoal do sítio.
O empregado da mercearia segue-me e persegue-me entre filas de batatas fritas e pão baladi. Não sei se o faz com receio que eu roube alguma coisa ou para me ver o “bife” (talvez os dois!).
Reúno as coisas que preciso e dirijo-me à caixa para pagar quando se dá início a converseta do costume:
-De onde é? Ah, que giro...mas fala tão bem árabe...é casada? Tem filhos? Onde vive? Desde quando reside no Cairo? Tem cá família? Que faz? Trabalho, estudo, turismo? Que número de cuecas veste, etc...(o normal!)?

Quando tento cortar a conversa para seguir caminho, reparo que todos os presentes na loja se encontram especados a olhar para mim como se eu fosse a reencarnação de Marilyn Monroe (versão cansada).
Observo-me a mim mesma apenas para confirmar se me esqueci de vestir as calças (podia ter acontecido, tendo em conta o estado em que se encontra o meu cérebro neste momento) e, não sendo esse o caso, reparo – com terror mas uma surpreendente descontração – que tenho o botão central da minha camisa aberto.
Este local estratégico onde o raio da camisa nova se lembrou de se abrir calha mesmo, MESMO no centro do meu peito assim revelando um belo exemplar de peitoral português revestido com um soutien vermelho que fez as delícias do pessoal da mercearia.

Onde estavam os bilhetes para serem cobrados? Em vez de fechar o botão , como se nada fosse, eu devia ter cobrado pelo espectáculo.
Isto de não ter sentido comercial já me tem lixado mais do que a conta...
Grrrrrrrrrrrrrrr..........


Falha adicional:
Reparo que não trouxe os meus óculos escuros e esta simples falha causa sarilhos em qualquer rua de um Cairo que se preze. Vêem-me os olhos e lá saltam os comentários de cariz sexual e uma enxurrada de piropos que, em vez de me fazerem sentir bem, me fazem sentir desrespeitada e exausta de sobreviver a tanto assédio.
A camisa aberta e a visão do meu peito revestido a um (ocasional?) soutien vermelho já não eram suficientes...também tinha de levar os olhos ao descoberto. Mas que ideia a minha! Do que é que estava à espera, afinal?!

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