Monday, February 13, 2012






"Le "bitch", madames.



Je suis le..."


Agradar a gregos e a troianos: missão impossível. Facça o que fizer, haverá sempre gente que insiste em ver-me como o inimigo público número um. Ser o espelho das frustrações de tanta gente nao é tarefa fácil ou agradável.

No Egipto, em concreto, existem dois papéis essenciais a cumprir para uma Mulher: ou ser o cordeirinho que a tudo sorri e obedece - deixando-se explorar, pisar, aniquilar - ou se veste a pele do lobo/a e, por pura necessidade, ser a "cabra do dia".

As Mulheres que conseguiram, por mérito próprio, algum poder ou vitórias são associadas ao estigma da "le bitch". Equívoco inevitável, uma vez que num mundo ainda dominado por forças opressivas, ou assumimos a posição de predador, como quem diz aquele que come, ou assumimos o papel da presa e somos comidos.


Excepção feita para quem estiver isolado do mundo, num desses retiros fantásticos nos Himalaias ou numa cave qualquer. Eu que nada sei afirmo que o verdadeiro teste à maturidade espiritual de uma Pessoa está sempre no convívio com os outros, nas ruas, na selva louca em que o nosso mundo se tornou. No isolamente, estamos protegidos. Longe de outros seres humanos, nada nos desequilibra ou desafia. O TESTE reside na vida REAL onde somos obrigados a lidar com ovelhas tresmalhadas, desorientadas, desalmadas.


Sou uma rapariga simples, carinhosa, emocionalmente empática com a Humanidade EXCEPTO quando me pisam os calos. Ser desrespeitada, subestimada na minha inteligência ou mérito próprio são coisinhas que me levam, a velocidade alucinante, da casinha de bonecas sorridentes ao quarto escuro onde só sobrevivem os mais fortes.

Querem ver a gatinha mansa, sejam mansinhos. Querem ver o tigre implacável, então tomem-me por parva e terão um experiência de "safari" que nenhum Quénia poderá oferecer.

Habituada "às ruas" do Cairo, salvo seja, e a todo o tipo de corjas sujas existentes neste mundo da Dança Oriental, sei que não me posso dar ao luxo de SER EU MESMA o tempo todo. Isso significaria suicídio social, profissional, até pessoal. Com a ternura com que sou EU MESMA me dou aos "meus", aos que merecem ter-me para eles tal como sou. Sem essa ternura mas com a inevitabilidade do que eu sei que "dói mas tem de ser" dou-me com todos os que tentem colocar-me o pé em cima, crendo que a minha simplicidade significa subserviência.

É triste que tenha de vestir a pele de loba má -"le bitch"- com frequência. Triste que ainda seja preciso ser mais máscula que os homens para sobreviver num mundo assim, tão avesso ao VALOR feminino, ao VALOR de quem consiga ser VITORIOSO naquilo que se propõe realizar, sem se vergar aos poderes instituídos e à necessidade macabra que alguns têm de tentar espezinhar quem os ameaça com a sua simples presença/existência.

Quando Jesus disse "...dá a outra face" deve ter querido dizer:

"...dá a outra face enquanto lhe dás uma cabeçadinha à Cais do Sodré para que não te bata uma segunda vez!" . Os apóstolos que redigiram estas preciosidades bíblicas deviam andar distraídos...


No entanto, já nao me sinto culpada depois de uma boa sessão de comportamento "le bitch". É que vejo os efeitos deste fenómeno. Depois de tentarem por-me o pé em cima e se surpreenderem com o meu apertanço de calos, os pontos voltam para cima dos "iis", a ordem reestabelece-se e eu evito que me comam por parva.


P.S. Se conhecerem algum local no mundo onde eu, simplesmente, possa ser eu mesma sem necessidade de chamar a minha "le bitch" interna como escudo protector, avisem-me. Mudo-me, imediatamente, para lá (suspeito que essa terra se chama "Terra do Nunca" mas posso estar enganada. Provem-me que estou, por pavor." Agradecida, a vossa amantíssima "le bitch".

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