Versão ocidental da "burqa" ou Kit de sobrevivência de uma Bailarina no Egipto.
Pois é, as coisas são tão bonitas e glamourosas quando apenas vistas de fora. Toda a gente admira e cobiça o sucesso alheio sem querer, sequer, pensar nos sacrifícios e trabalho árduo que estão por trás desse sucesso.
Dançar profissionalmente no Cairo tem os seus custos óbvios e outros menos evidentes. Um teste constante aos nervos de quem cá vive é um desses preços escondidos por dentro das mangas da grande camisa desta cidade louca. Esses preços que as lojas não querem que vejamos, para não cairmos para o lado ou fugirmos da loja a sete pés. Estão a ver o que quero dizer?!
Esqueçam o famoso assédio sexual que recai sobre as bailarinas e os trabalhos que se conquistam através da nobre cuequita e da cama, nem precisamos ir por aí...falemos de uma singela ida ao supermercado ou ao ginásio. Actos quotidianos como estes podem constituir autênticos desafios à força de carácter de uma Mulher e à sua indelével capacidade de não recorrer aos instintos mais primários e, consequentemente, chegar a matar alguém (à chapada e ao pontapé de biqueira larga, ao arranque entusiasmado de cabelos ou ao tradicional "esganar pelo pescoço").
Eis o kit de sobrevivência que qualquer Mulher, bailarina ou não, deverá ter em conta sempre que sai à rua no Cairo:
1. Vestir uma qualquer versão de um saco de batatas largo através do qual não se possam adivinhar vestígios de um corpo.
2. Usar boina, boné, lenço na cabeça, qualquer coisa esquisita que cubra os cabelos.
3. Recorrer a uns óculos escuros tipo "zangão", tão grandes que pareçam janelas fumadas através das quais os olhos se tornem totalmente inexistentes.
4. Não usar "baton" nos lábios, uma vez que estes ficam em evidência quando os cabelos e os olhos desaparecem do mapa visual de quem nos observa.
5. Pespegar com um belo Ipod (versão moderna dos antigos "walkman") e seus auriculares nos ouvidos, criando uma parede sonora que nos separa da catadupa de ordinarices de cariz sexual que nos são, tão generosamente, oferecidas. A música da nossa escolha directamente injectada pelos ouvidos adentro também evita o enjoo de tripas das buzinadelas constantes e da recitação do "Corão" ecoando de carros, lojas, restaurantes, casas particulares de forma compulsiva.
6. Olhar-se ao espelho, antes de sair de casa, e verificar se nos parecemos mais com uma Mulher ou com um andróide. Só ir para a rua quando nos parecermos com o andróide. Qualquer sinal de Humanidade no corpo de uma Mulher é tido, cada vez mais, como uma ofensa, intromissão, desafio à ordem pública, provocação, sinal óbvio de que andamos à procura de sarilhos.
Andróide= SIM!
Mulher= Nem pensar!
Considerem-se avisadas.
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