Apanhada com a boca na botija (seja lá o que isso significa!).
Já comentei sobre o meu queridíssimo ginásio cairota e suas idiossincracias próprias de uma cultura às avessas...
Ginásio só para meninas, como manda a tradição, e muita coisa que nada tem a ver com exercício físico.
Raparigas de maquilhagem, jóias e salto alto tentanto correr na passadeira, intermináveis coscuvilhices, telenovelas turcas a alto som, aroma a cozinhados que se preparam na recepção do estabelecimento e mais umas quantas ocorrências estranhas que desafiam até o mais motivado atleta.
Assim sendo, admito: sou o Rambo lá do sítio. Surpresa das surpresas: vou ao ginásio para praticar desporto (!!!!!!!!). Por isso, sou pouco dada a convívios para meninas que não têm mais nada que fazer senão cochichar, comer e uivar de dor quando são levadas ao mais mínimo esforço físico.
O único momento tipicamente "feminino" a que me dou direito é o do abençoado banho turco, depois do meu treino. Sou rapariga de calores e trópicos. Sinto-me bem sob o sol, a humidade, as Caraíbas e seus vizinhos. Meter-me naquele quartinho sobreaquecido depois de duas horas de árduo trabalho físico sabe-me muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito bem. Tão bem que até me dá para cantar.
Preferência para os clássicos do jazz que conheço de cor graças ao meu vício musical denominado "Billie Holiday".
Por norma, uma empregada fica à minha espera à saída do banho turco, tipo dama de companhia da realeza de séculos passados, facto este que me irrita para lá da conta. Há qualquer coisa de feio no acto de esperar que outra pessoa nos calce os chinelos, nos bajule e enrole numa toalha quando já passámos dos dez anos de idade (excepção feita se tal ocorrência se der com alguém do sexo masculino e da MINHA ESCOLHA). Que sim, que o colonialismo ainda persiste no inconsciente colectivo do Egipto e que a maioria das dondocas egípcias QUER este tipo de tratamento mas eu sou campónia e disso me orgulho. Não gosto de criados que me limpem o traseiro, me apapariquem como se tivesse cinco anos de idade e sigam com olhos de açor cada um dos meus movimentos. Sou menina crescidinha e posso cuidar de mim, muito obrigada!
Mas já se sabe que o Egipto não faz agrados a quem quer que seja. Sabendo disso, como pude supreender-me quando, à saída do dito banho turco, encontrei empregadas e clientes do ginásio à porta do mesmo, encantadas por me ouvirem cantar lá dentro?!
Sim, diz que sim. Ouviram-me cantar dentro do quartinho maravilha e abancaram por lá, usufruindo do espectáculo como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Vá lá não terem trazido bandeirinhas com o meu nome e isqueiros acesos para criar ambiente...vá lá...
Timidamente, pedi lincença para passar por entre as pernas extasiadas das minhas novas admiradoras. Elas trincavam amendoins, bebiam refrigerantes e comentavam - por entre dentes - que bem que ela canta!
Sorri, escondi-me debaixo do chuveiro caladinha que nem um rato.
P.S. Apesar de tudo, adoro o Egipto, esta Quinta Dimensão onde o humor e o terror se encontram com desarmante frequência.
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