Tuesday, April 17, 2012



"RAKASAH", ou a vamp clássica que come maridos alheios ao pequeno-almoço.

"Bom dia, prazer em conhecê-la. Eu sou a vamp que come maridos alheios ao pequeno-almoço. Sugiro, para sua segurança, que tranque o seu des-amado num quarto até que me vá embora."

Personagens (reais):

1. Eu, apenas eu.
2. Um amigo chegado, egípcio do tipo comum mas com um coração raro (daí ser meu amigo).
3. Casal conhecido do meu amigo. Ambos ricos por herança e conexões privilegiadas com o Antigo Regime da Real Corrupção. Ambos de meia idade e com uma DAQUELES casamentos frequentes para os quais não existem razões aparentes, excepto interesses económicos em comum e o famoso comodismo que atira perfeitos estranhos para a cama um do outro.

Cenário:
Jardim da casa do casal. Mesa e cadeiras de veraneio, empregados ao nosso redor agindo com o tom servil colonialista (com a diferença que, neste caso, são egípcios explorando outros egípcios e não estrangeiros explorando egípcios...vai dar tudo ao mesmo, afinal!).

Início de conversa:

-Ah, então...tu és "bellydancer"?
-Sou bailarina.
-"Bellydancer"!
-Há quem me chame assim mas, na verdade, o que sou é B-A-I-L-A-R-I-N-A.
-Hmmm...vocês estão a invadir o Egipto, hã?
-Nós, quem?
-Ah, as russas e as "bellydancers" estrangeiras.Levam-nos os homens, suas marotas!
-Não sou russa, nem tão pouco "bellydancer". Para confirmar o que me diz, terá de falar com uma delas.
-Não...ahhhnnn...quero dizer...as "bailarinas" estrangeiras. Estão a invadir-nos, vocês.
-Ah, isso! Já vos invadimos há muito tempo. Desde o início dos anos noventa. Bem como os egípcios já invadiram o mundo inteiro há várias décadas. Chama-se mobilidade, emigração, liberdade de viver onde somos felizes.
-Sim, claro (expressão entre o choque e a profunda desorientação).

O meu amigo ajeita-se na cadeira, bebe um pouco de chá e aceita um trago do cigarro de haxixe que esta senhora da alta sociedade egípcia fuma com os modos de uma prostituta da rua das Pirâmides.

-Sabem que as "bellydancers" são famosas por roubar os maridos às egípcias.

Silêncio da minha parte porque, obviamente, a conversa não me diz respeito.

-Que tens a dizer sobre isso? - Dirigiu-se a senhora (?) a mim, apertando a mão ao marido que, bem mais delicado do que ela, se mostrava incómodo com a conversa.

-Já lhe disse que não sei nada sobre as "bellydancers" de que fala. Observo-as à distância, como a observo a si. Mas não têm nada em comum comigo.

-Ouvi a Nagwa Fouad dizer numa entrevista que era a única "bellydancer" a quem uma mulher "comum" roubara o marido quando o normal é que suceda o contrário.

-Não sei muito sobre os conflitos matrimoniais da Nagwa Fouad. Tive aulas com ela, tirámos fotografias juntas e assisti a uma conferência na qual ela contou parte do trajecto de carreira mas nunca me interessou saber quem lhe tinha roubado o marido. Além do mais, acho que os maridos não são guarda-chuvas para serem roubados.

-Ah, como não? Vais desculpar-me mas a fama das "bellydancers" - ou bailarinas, como queiras chamar-lhes - é a de que possuem truques de sedução capazes de virar a cabeça aos homens casados.

-Com truques ou sem truques, os homens divorciam-se porque querem e envolvem-se com outras mulheres porque querem. Não são crianças indefesas, raptadas por "vamps" poderosas.

-São sim, como crianças. E não quero que leves a mal mas sei de muitas histórias que lares distruídos por causa de mulheres da tua profissão...

E foi neste momento em que escolhi fazer-me de parva e calar-me para evitar dar uma lição de carácter educativo-agressivo a esta senhorinha muito "inhazinha" . Quantas vezes tive de gritar a plenos pulmões: "NÃO ESTOU INTERESSADA EM HOMENS CASADOS, EM GERAL. E MUITO MENOS INTERESSADA NO SEU MARIDO, EM PARTICULAR. RELAXEM!"

Mais curioso que tudo é constatar que as mesmas mulheres hiper receosas que as "bellydancers" lhes roubem os maridos são elas mesmas destruidoras de outros lares. Sem "belly".Sem "dance". Apenas pura putaria de quem olha para o jardim do vizinho e o acha mais verde do que o seu.

P.S. Cansadita de mentes tão porcas e básicas. Cansadita, confesso...

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