Wednesday, June 6, 2012

Ainda e sempre* Irlanda...

E do que se traz na mala de viagem e jamais se retira.
Alguns livros, obviamente. Que não sou rapariga de compras, lá isso não sou mas LIVROS estão acima dessa categoria mundana. Livros são investimento no que em mim é Eterno. Não se poderão comparar a estatuetas, "souvenirs" foleiros ou roupas com que se vestem vaidades. Livros são vício que dá mais vida do que tira.

Os clássicos: Oscar Wilde e James Joyce e um novo autor irlandês pelo qual me estou a perder de amores (Sebastian Barry). Irlanda é, à semelhança de Portugal, país de GENIAIS escritores. Será da melancolia, do Atlântico, dos duendes?!


E um último detalhe que marcou a viagem e que ficou preso ao fundo da minha mala de viagem:
Um dos maravilhosos voluntários que trabalharam no "Shakefest" prometeu-me, na noite anterior à minha partida, que me levaria café acabado de fazer ao quarto na madrugada seguinte. 
Deixem-me apenas clarificar certos dados: eu tinha de acordar às 4h da matina para sair às 5h do castelo de Charleville. Acordar a estas horas da manhã no seio de um castelo antigo irlandês, húmido e frio que nem ............. (preencher o espaço em branco com os termos menos bonitos que vos venham à cabeça...um,dois,três: AGORA!) não é uma experiência agradável.

-Não é necessário levantares-te tão cedo apenas para preparar-me café. - Adverti o Steve (Malone) que, diga-se de passagem, não me passou cartão.
-Vamos ao que interessa: Quantas colheres de açucar queres no café? - Prosseguiu, convicto, ainda que sem conseguir que eu acreditasse que ele lá estaria na madrugada seguinte com uma chávena de café quente em riste.

Mas ESTAVA. Pasmem-se, caros leitores. Que estas coisas são perigosas para o fragilizado coração de uma bailarina do Cairo. O conceito de "palavra de honra" está tão ultrapassado no Egipto como as ceroulas que os avózinhos usavam há gerações atrás. Espera...as ceroulas ainda conseguem ser mais actuais do que a "palavra de honra", vistas bem as coisas. Ninguém cumpre aquilo que promete, ninguém é aquilo que diz ser, ninguém é fiel à sua palavra (nem a si mesmo, mas isso são histórias para outros arraiais).
Como poderia o Steve surpreender-me?!
4.45h da matina. Lá estava eu esfregando os olhos ensonados, arrastando malas pelas escadarias magestosas do castelo de Charleville quanto vi o mais incrível fantasma de todos: o Steve com a chávena de café na mão.
O prometido era, de facto, devido. Porque é que uma pessoa se levantaria de madrugada para preparar café para uma viajante que, provavelmente, nunca voltará a ver na vida? Não somos amigos próximos, nem familiares, nem "quase" nada. Mas o gesto de generosidade pura esteve lá, surpreendendo-me mais do que os espíritos com quem tive conversas de terceito grau. 
Uma pessoa desabitua-se destas bondades desinteressadas, pá! 
E fica-se assim, com o coração um pouco mais leve e umas quantas estrelas de luz viva brilhando no nosso quintal.

No comments:

Post a Comment