Friday, June 1, 2012

Encontros de terceiro grau.

Aceita. Te. Tudo. Nada.
ACEITA.
Principalmente o que não compreendes pois é nesse nervo que reside a ampliação do teu Ser muito além do que julgas (!) ser.

Todo o meu trabalho de dança aconteceu em recintos distintos do castelo de Charleville ("by the way", excelente inspiração para um livro de aventuras e mistério). As zonas recuperadas do castelo são usadas, frequentemente, para eventos de índole cultural cujos lucros servem para recuperar zonas ainda deterioradas do monumento. Uma capela decorada com motivos maçónicos era o próximo espaço a ser restaurado e motivo da minha presença, bem como da presença de outros artistas e voluntários que contruibuiram para um fim-de-semana de animação e intercâmbio cultural inesquecíveis.

Os meus workshops decorreram num salão do castelo, assim como a conferência sobre "Cultura, Música e Dança egípcia" e o espectáculo. Estivemos acompanhados por mais do que meros participantes no decorrer de todas as actividades. Nunca me importei com isso.

Na primeira noite que passei no meu quarto vampiresco, tive acesso a uma bela experiência ou encontro de terceiro grau. A meio da noite, acordei com o espectro de um homem simpático e sorridente dando-me toques na cabeça. Ele veio apresentar-se, dar-me as boas vindas e conversar um pouco. Exausta, voltei a adormecer até que o espectro de uma rapariga me despertou puxando-me ao de leve as pernas. Levantei a cabeça, olhei para ela (ávida de atenção) e o ritual de boas-vindas repetiu-se. Uma terceira vez me despertaram, desta vez sem que me recorde de qualquer característica do espectro que comigo falou.
Se alguém me informasse, previamente, de que conversaria com aqueles a que, comummente, se chamam "fantasmas", das duas uma:
Ou ficava acordada a noite inteira à espera de "qualquer coisa", curiosa e tremendo com uma vela acesa na mão. Ou, simplesmente, tomaria tal advertência como produto de mentes facilmente impressionáveis e dadas a excessivos devaneios imaginativos.

A verdade é que a experiência não foi assustadora ou negativa, como se poderia pensar. Despertei, de manhã, com uma sensação de cansaço mental fora do normal mas, tirando esse pormenor, senti-me bem-vinda, aceite num espaço que pertence a mais pessoas do que julgamos, à partida.
Posso até afirmar sem vergonha ou temor de ser tomada por lunática que ganhei um certo carinho a esses espectros que comigo partilharam essa noite, deixando-me com a sensação de que, mesmo depois de passarmos a outra dimensão onde o corpo físico perdeu densidade e deu lugar apenas à nossa Alma eterna, continuamos a querer o básico: Atenção, amor, comunicação, companhia, calor humano.
Depois vejo o episódio sob o prisma mais cínico e penso:
-Realmente...isto só a mim é que me acontece! Quem é que vai dançar num castelo irlandês assombrado e tem conversas com fantasmas?! Isto, só a mim...


E rio-me. Comigo mesma, com os meus amigos espíritos que para sempre ficarão na minha memória como os primeiros a dar-me as Boas-Vindas ao maravilhoso castelo de Charleville.

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