Friday, June 1, 2012

Portuga que é PORTUGA tem de...

Ir ao mar...
Tais pensamentos visitaram-me enquanto me banhava num fim de tarde português, despedindo-me - pela enésima vez - do meu país Natal.
Parece-me cada vez mais óbvia, esta dependência inata entre o português e o horizonte sem fim, o cordão umbilical marítimo que jamais se corta, por mais que trotemos mundo afora.
Portugal é essa pontinha debruçada no precipício atlântico, um penhasco mínimo mas inevitável do qual avistamos apenas duas saídas: ou morrer em terra, demasiado pequena e comesinha para a nossa alma-mundo ou lançarmo-nos ao mar, arriscando naufrágios mas com a esperança dos loucos de que descobriremos novos horizontes.
A nossa dimensão geográfica não nos define, não permitimos - nunca! - que nos definisse. A essa pequenez territorial respondemos com grandeza de espírito e fazemos do mapa mundi a nossa casa. Creio que essa sede de Mundo define a portugalidade em que mergulho, literalmente, sempre que por cá passo.

Parece-me, de rompante, que ser português passa por ser então aquático e aéreo, de pleno acordo com a realidade de que a terra firme é demasiado densa e limitada para as nossas almas que já nascem a pertencer ao Universo todo. Português nunca é de Portugal, é de todo o lado. Usa este calcanhar de Aquiles da Europa como prancha de lançamento para o Grande mergulho, apenas isso. Depois regressa à pranha para ganhar fôlego mas não se deixa lá ficar...atira-se de cabeça novamente.
Sempre que venho a Portugal, TENHO de banhar-me no nosso Atlântico. Inverno, Verão, não interessa. Pormenores insignificantes não contam nestes assuntos existenciais. O corpo esquece o gelo atmosférico e aquece-se no seu elemento natural: o MAR.
Portuga que é PORTUGA é do Mar aberto, do que não tem fim, do risco, do que é diferente e pelo choque nos faz crescer. Por ser cada vez mais do MUNDO, sei que sou cada vez mais portuguesa e com esse orgulho vou. Sempre. Por aí fora. Para onde fôr. Sem perder de vista a minha prancha que levo, serenamente e sem alarido, dentro do peito.

 Excerto de entrevista a Francisco José Viegas, revista "Volta ao Mundo":

"Há a frase feita de que há sempre um português em qualquer lado do mundo. Mas é mesmo verdade?

F.J.V.: É rigorosamente verdade. Isso prova que os portugueses procuram muito sair. As nossas fronteiras aqui na Europa são muito pequenas.Não estou a dizer isto por blague, são muito pequenas para o nosso génio. O nosso talento é o de conseguir lidar com as diferenças, fomos sempre assim. Fomos os mais curiosos, os mais destemidos e os que tinham pouco a perder. (...)"


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