Thursday, January 9, 2014

Da Loucura e outras Portas Sagradas*

Os Egípcios conhecem-no bem; melhor dito: os Egípcios são exímios em praticá-lo. Sim, esse ofício do mergulho na Loucura. Eis como, sucintamente, vejo o assunto:
A fronteira entre a Loucura e a sanidade mental é ténue, relativa e mutável consoante a época que as define. É também uma fronteira temida e, parece-me, essencial para todos os Criadores e Amantes. Sem esse mergulho nas águas profundas (Neptunianas) da Loucura nada de novo vem ao mundo, nada de belo ou amoroso ou verdadeiramente transcendente.


Imaginem um imenso Oceano.
Há quem jamais entre nele - por medo de afogar-se, por estar preso a terra firme, etc.
Há quem apenas molhe os pés na orla desse Oceano, sentindo a frescura da água e o seu poder destruidor/criador mas sem audácia para ir mais além.
Há quem entre pelo Oceano adentro e lá nade mas sem perder o pé em terra. Assim que os pés não tocam o chão a pessoa regressa a terra firme.
Há quem mergulhe fundo nesse Oceano, perca o pé (e a cabeça) e assim ganhe o coração. Depois de lá mergulhar - e deambular pelos tesouros existentes no fundo do Mar - ele/ela regressa a terra firme.
Depois há quem mergulhe fundo, nade nas profundezas do Oceano e recolha os tesouros que lá se encontram mas jamais regresse a terra firme. Afunda-se simplesmente.


Entre os dois últimos tipos de mergulho no Oceano existe apenas esse pequena distinção dos que mergulham fundo e regressam a terra (os Artistas) e aqueles que mergulham e não tornam a pisar terra firme (os quais são normalmente diagnosticados como "clinicamente insanos"). Da mistura entre os dois nascem os AMANTES e, parece-me, os/as BAILARINOS/as.


Mergulhando fundo (tentando vir à tona de água e, de vez em quando, até terra firme).

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