Friday, November 12, 2010


Cairo, dia 12 de Novembro, 2010


Orgulho e Preconceito (e nao me refiro a Jane Austen!)


Sou timida por natureza.

Esse sera apenas um dos factos que surpreendem todos aqueles que me conhecem profissionalmente. " Timida, tu?!" - Costumam dizer-me os incredulos.

" Sim, timida. Recolhida como uma crianca no seu proprio mundo."


No entanto, encontro-me numa profissao em que nao me posso dar ao luxo de ser timida (pelo menos, nos momentos em que me encontro na arena do trabalho).

Depois do espectaculo de ontem , recebi a visita de um grupo de bailarinas de Italia que estarao nos meus futuros workshops de Veneza (Marco de 2011, YES!).


Dos muitos comentarios gentis que teceram em relacao ao meu trabalho, notei um detalhe que me deixou perplexa.

Entre os usuais FANTASTICA BAILARINA, ESTOU SEM PALAVRAS e outras coisas bonitas que as pessoas me presenteiam, elas comentaram o quao surpreendidas estavam por eu ser tao simples e acessivel.

Parece que, como tambem e' usual, tinham ouvido sobre o meu ar de Diva (eu?!) e coiso e tal...

E, parece tambem, surpreenderam-se por eu nao ser nada do que tinham escutado sobre mim e por usufruir do meu sucesso sem que ele me suba a cabecinha!


Pois...como responder a isto?


O.k, vamos la...(tentarei!):

Considero a ARROGANCIA como o disfarce dos mediocres.

Considero os "mete nojo" deste mundo como a escumalha insegura que tenta fazer-se melhor do que e', na realidade, ou nao va o pessoal aperceber-se de que eles nao possuem nenhuma vitoria alcancada para exibir nem talentos concretos que tenham produzido algo valido e util no mundo.


Ora eu tenho os meus pes bem assentes na terra e sou consciente do meu valor e importancia relativa.

Tenho as vitorias para exibir e os objectivos alcancados de forma muito concreta mas sei que a grandeza reside na SIMPLICIDADE e que ser acessivel aos outros me da oportunidade de APRENDER, CONECTAR-ME com eles, Criar amizades e partilhas, CRESCER...

Alem disso, venho de uma familia do campo, simples e humilde, ligada a terra, as coisas essenciais que sustem a Vida, aos ciclos e aos sinos de Igreja.


Talvez a minha ausencia de arrogancia (que tantos esperam, insistentemente, de mim) seja apenas um acto de leve inteligencia. Um laissez faire dos outros e de mim mesma, um riso ironico sobre todos aqueles que andam de nariz levantado.

O meu nariz anda sempre alinhado com a realidade, nada mais.


Tambem existem aqueles que olham para a minha simplicidade com incredulidade (querem MESMO que eu seja uma cabra!) e um falso paternalismo

(" ah, coitada...esta la no meio dos selvagens egipcios e dos atrasados dos arabes...desejo-lhe boa sorte!").


A esses paternalistas eu dou um sorriso, aparentemente, inocente e agradeco a compaixao. Do alto da sua altivez paternalista chega-me a verdade da sua inveja e cobica.Nada me escapa, caros amigos! O meu radar esta ligado e sintonizado nas vibracoes mais altas e mais baixas do Universo...faco-lhes o raio X num segundo!



Por mais que me queiram pintar de negro, orgulho e vaidade, aqueles que me conhecem sabem que sou a pessoa mais simples do mundo e que nessa simplicidade reside o que possa existir de GRANDE em mim.


Entre um espectaculo e o que se seguiu, sentei-me com o grupo de bailarinas no meu agora gelado camarim tomando o meu famoso cappuccino e rindo-me dos lugares comuns que me atribuem.

Cada vez mais, valorizo estes momentos de verdade partilhada em que a imagem publica que os outros constroem de mim cai por terra no espacinho de um abraco, um riso sincero, uma promessa de sairmos pela noite fora nessa Veneza magica onde estarei daqui a uns meses.


Havemos de bailar no nosso proprio baile de mascaras, navegar numa gondola acetinada, dormir sobre essa cidade flutuante, tirar todas mascaras e ser...irremediavelmente...simples e amorosos.

Como a terra. Como os simples de alma.

Como a Joana que tantos nao suspeitam existir (e aqui ando eu presa nas minhas mascaras!).



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