Saturday, November 6, 2010



Cairo, dia 6 de Novembro, 2010





O carteiro toca sempre duas vezes (ou mais!)



La dizia o brilhante Jack Nicholson num filme do inicio dos anos oitenta que eu conheco bem de nome mas que nunca vi.
E do carteiro que toca sempre duas vezes (ou mais) se chega ao Egipto e a mais uma regra de ouro contra a senilidade precoce (Guia Oficial de Sobreviventes no Egipto):

Qualquer informacao - em todas as areas da vida publica e privada - tem de ser dada ao interlocutor tres vezes. Talvez mais mas nunca menos que tres vezes.
Tres sera aqui o numero magico. Iniciatico de qualquer actividade, intencao, acontecimento real.

O cerebro egipcio devia mesmo ser estudado a serio pela comunidade cientifica! Incrivel...
So regista a mais minima informacao a terceira vez que lha passam (com sorte...).


Exemplo: Quero ir para a Rua das Piramides (Shari' il Haram). Mais simples, nao ha!
A primeira vez que menciono o nome da rua ao condutor, nao conta. Ou melhor, conta para os acaros que vaguearem por ali, uma mosquita pousada no nosso joelho ou os espiritos de faraos ja idos que nos acompanham sem nos darmos conta.
Podera contar para escutarmos a nossa propria bela voz (Narciso virado para o canto) ou meditarmos, tipo mantra...repetindo baixinho aquilo que pretendemos mas, para o condutor, nao conta.

Segunda vez que fazemos o nosso pedido o condutor olha para nos com cara alucinada (como quem esta entre este mundo e o outro), cospe para fora da janela (thanks God!) e acena com a cabeca, fazendo que entendeu.
Nos, que ate nem nascemos ontem e nao queremos passar o dia as voltinhas pelo Cairo sem nunca chegar a afamada rua das Piramides, temos esse pressentimento fantastico de que o senhor condutor olhou-nos pelo espelho retrovisor, cuspiu, acenou, disse que sim mas...nao apanhou a informacao. Notemos que esta informacao nao precisa de um Einstein para ser apreendida mas os cerebros egipcios sao...como diria...mesmo muito...cuidado, Joana, olha a diplomacia...muito ESPECIAIS (de corrida).

Ele diz e repete que sim, sim, sim mas nos dizemos para nos proprios com a certeza de quem respira, NAO, NAO, NAO. Ele nao entendeu e vai levar-me para o lado oposto da cidade.

Meu dito, meu feito.
Se nao insistirmos em repetir a informacao uma terceira vez (e, frequentemente, quarta e quinta e sexta e por ai fora que os numeros sao infinitos e a vida 'e bela nessa infinitude), vamos mesmo passar o dia a ver carros partidos, condutores loucos que saltam para cima uns dos outros e um Cairo caotico, fascinante nestes fenomenos cerebrais e outros que o tornam magico, insuportavel, nosso amante e inimigo de morte.

E o carteiro vai batendo uma, duas, tres, as vezes que forem necessarias e que a sua paciencia lhe permita.
Como dizia o nosso Pedro Abrunhosa: E' preciso ter calma, nao dar o corpo pela (i)alma!





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